sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Destruir para construir. Como assim?

Eu sou uma pessoa que está sempre fugindo do que leva todo mundo para o mesmo caminho numa velocidade desnecessária, com os nervos alterados, um relógio em atraso, sons de orquestra desafinada, ou seja, eu não entro no trânsito. Faço o meu caminho, busco atalhos para chegar, eu mesma, onde quer que eu vá intacta.
Pois bem, nos últimos três dias estava eu numa rotina dessas, teria de ir para o mesmo lugar durante esse período num mesmo horário. Não. Não é um emprego, pior, tratamento dentário. Outra aversão minha. Por que os dentistas doem?
Eu descobrir um atalho, um caminho que vai da minha casa para o destino dentário com o privilégio de uma paisagem natural, com rios, ponte velha de madeira, árvores de muitas idades, alturas, vidas, caminho de terra em plena cidade. Um verdadeiro atalho até certo ponto.
Atalho é o tipo de rota que me atrai. Um convite para o maravilhoso “descubra onde isso vai dar” e “decore o caminho de volta” uma aventura que se assemelha a ter um fusca. E eu tenho um 1976 vermelho. Adoro atalhos tanto quanto o meu “fusquita Juaninha”. Então, quem quiser se aventurar, vai algumas dicas minha:
1° se você tem um fusca é necessário carregar uma chave de fenda, uma lanterna e 3 bananas. Nada mais.
2° se você está num atalho é sempre bom ter um celular com bateria, se tiver dois melhor, água, tempo de sobra, tanque do carro cheio e algumas bananas. Nem pense no Google maps, ele não conhece atalhos.
3° se você estiver de fusca num atalho, além do necessário, é bom levar uns trevos da sorte, umas folhas de arruda e estar em dia com os caras lá de cima. Vai precisar sorte.
Mas o atalho que me refiro ter enfrentado, até certo ponto ele era um convite para o misterioso “como vou me sair de onde entrei?” tava tudo bonitinho com seus diferentes tons de verde, mas ai começou a surgir outros movimentos na estrada.
Caminhões descarregando entulhos - esses que tiram o lixo do lugar visível a todos e jogam em lugares invisíveis de todos e ambos vividos por todos, com diz uma pessoa que conhece “O Tudo é um Todo” -, tratores da modernização que levam homens a destruir o que irão construir. Era o caminha da modernidade chegando.
“Desculpe pelo transtorno. Estamos trabalhando para o seu bem”.
Que bem? Bem, só se for do político e do futuro do político. Encher de piche o caminho que leva a minha casa ao dentista é para o meu bem? E quem falou que isso vai ser melhor para mim? Agora vou chegar como todas as pessoas chegam ao seu destino, desembarque.. Nervosa!! Já não me bastasse o som do consultório dentário agora tenho que fazer parte do “Todo”.
Pois bem, então vão começar a colocar piche no caminho das águas da chuva, nas geleiras das montanhas, nos “Iciberg” dos pólos norte e sul, e os desertos, vulcões, as raízes das árvores, das gramas, da vida.
Digam-me: “como a natureza vai reagir ou será que já está reagindo?”
Deste cenário que vivi nestes últimos três dias de expectativa esperava que, assim como as águas, o moderno contornaria o caminho para se preservar o passado. Uma ponte nova ao lado da antiga e talvez a primeira ponte de madeira daquele lugar para mim representaria um novo que quer mudar e sabe o quanto é preciso preservar. Mas ver todas as árvores de raízes para cima foi como se o tempo continuasse atrasado para Tudo e se não bastasse o “tudo é um todo”.
Bem ainda tenho um longo tratamento dentário e espero encontrar outro novo atalho, mas ai será segredo meu e de meu “Fusquinha Joaninha”.
Abraços.

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