A escola e a família.
“Provar Alimentos Alternativos”??!! Na escola?!! Mais poético seria “Degustar”, porém valendo nota tudo é uma prova. Imagine uma amiga minha que tem de toda quarta fazer pão de queijo para seu filho vender na escola. É uma atividade onde no final das vendas, que no final das contas coincidirá com o encerramento do semestre (olha a prova?), cada criança juntará seus pontos (dinheiros) para comprar um livro. Já posso ter uma ideia dos mais vendidos - “ Em 30 minutos com Jamie Oliver”. Uma que, o tanto gasto para fazer os tais pães de queijo dava para comprar a “80 horas com Jamie”.
Mas esta loucura culinária escolar que mobiliza, digo, desestrutura toda uma rotina familiar virou moda. Estamos vivendo um momento de concorrência gastronômica escolar. Não vai demorar muito para Jamie vir fazer um curso preparatório infântil de culinária nas escolas do Brasil. Minha irmã passou por uma pegadinha da culinária escolar recentemente. Dizia a tarefa:
- escreva e desenhe uma receita de culinária alternativa.
“O que seria isso?! ovo frito que não é...”
“ Culinária alternativa é o aproveitamento total de todos os alimentos, como vegetais, legumes, frutas e sobras de alimentos prontos. É saber criar com sobras de alimentos, talos de vegetais, cascas de legumes e frutas.”
Ah sim, muito mais fácil é só escolher uma receita para os meninos, tipo cópia. Uma mulher cansada depois de um dia de trabalho, numa cidade onde os termômetros estão registrando 38°, a sensação térmica é de 42°, umidade 15%, sem mar.. chega em casa e tem de fazer tarefa com dois meninos malucos que torcem para a argentina só pode querer tirar 10 na escola. “Vamos ver uma receita para arrasar na tarefa... Guacamole, Ariiiibaaa Méxicooo!!”.
Se a tarefa fosse só isso, ponto para mãe, mas a surpresa estava por vir no dia seguinte. A professora fez uma votação de qual prato as crianças queriam conhecer.. adivinha?! qual o nome mais sugestivo para uma sala onde a imaginação faz parte do universo infantil?! “Guacamole”!! Para nossa alegria...
Não bastasse ter estudado a vida inteira para se livra da escola você escolhe ser mãe e retorna ao estudo para a prova dos 9. Carol acorda no outro dia as 5 da matina como uma “Guaca Louca”. Ingredientes:
- 1 abacate grande e maduro
- 1 limão
- 6 folhas de hortelã
- 2 cebolas
- 2 dentes de alho
- 3 colheres de azeite
- 1/2 kg de acém moído 2 vezes
- 1 pacote de massa de pizza frita
- 1/2 kg de feijão carioca
- Sal a gosto
- Pimenta a gosto
Alho, cebola, pimenta será que isso num vai dar uma “Guaca preta” na criançada?! não não não, olha a nota e não temos tempo para pensar muito. Quituts prontos e lá se vão os “Guaquinhos” de Carol para escola. Hora da prova real apenas 3 provaram da “Guaca mole”: a professora, meu pai e meu sobrinho temendo chegar em casa com muitas “Guacadas”.
Meus sobrinhos passaram o dia “Guaca murchos” sem graça. Daí fui perguntar o que se passa com tanta tristeza e eles me disseram que ninguém quis provar da receita de sua Mãe, pois o cheiro de alho estava muito forte. Oh, que “Guaca dura”, não liguem isso vai passar como uma “Guascada” (peço uma licença poética para usar dessa escatologia, mas foi preciso manter a estética da “Guaca”)... relaxem...
Bem, a verdade é que nessa situação fica difícil você explicar para uma criança de 6 e 7 anos que sua mãe acordou de um sono bom para fazer uma prova onde não tinha menor sentido, mas a escola descontrola a paz na casa. A Escola ao invés de cumprir com suas obrigações de formar cidadãos pensante e mais ativos socialmente veem reprimindo a capacidade de aprendizado da criança, fazendo com que seus pais fiquem preso ao sistema e se cansem o suficiente para não pensar em mais nada. Daí quando uma mãe vê uma receita com alho as 5 da matina só tem de “pica-ralho”, “soca-ralho” e “taca-ralho”.
“Nem que a ‘Guaca tussa’ eu tiro 0 professora Helena..."
