sábado, 20 de março de 2010

Pais, professores eternos.


Uma das coisas que mais me recordo de minha infância era a alegria de entrar na sala onde meu pai trabalhava. Meu pai, hoje, é militar reformado da força aérea. Na aeronáutica trabalhou em diversas funções até se chegar ao cargo da “calmaria”, Tenente. Como se algum cargo superior fosse uma marola. Na verdade todos os cargos são um tsunami ainda mais se forem das forças armadas. Brasil!!
Mas eu via meu pai como um militar indo para o trabalho e um paizão voltando para casa. Ele nunca misturava a sua patente com sua dedicação paterna. Estudava junto, ensinava a dirigir, do nada para tudo e todos tomando sorvete, agora é hora de capinar. Não era de bronca, mas suas palavras de conselho eram duras, sem muitos rodeios. O oposto de minha mãe que para dizer “isso está errado” conta até uma fábula.
Acreditem que nessa brincadeira de historinhas me rendeu um “5,0” em programa de saúde. Não sei se todas as mães são assim, mas a minha... vai falar de higiene bucal o assunto corre além dos fios dentais e envolve comportamento jovial, vocabulário sujo. Então o que é higiene bucal? “A boca é tudo e para estar limpa não basta escovar os dentes, lavar a língua, passar fio dental tem de evitar falar palavrões, não gritar com os mais velhos, falar menos e ouvir mais.” Pois bem, sua prova é 50% correta. Mas professor...
Fala sério, os pais não devem cansar de se perguntar, “mas em que hora eu disse isso?”. A verdade é que se os filhos são incríveis é porque os pais são maravilhosos. Eu reprovei aquele ano de programa de saúde, mas olha para mim hoje. Não é incrível?!!
Meus pais se concentraram as claras no valor de se criar Bem uma família. Meu pai além de trabalhar como militar montou uma marcenaria no quintal de casa e toda noite ele e minha mãe se misturavam aos pós de cerra acreditando no futuro melhor para os filhos. E hoje a marcenaria é o pão de meus sobrinhos.
Criar não é fácil, pensem em desenhar uma árvore e logo se vem a primeira dúvida “de fruta ou sombra?”, ok de fruta. “Maçã ou abacate?”, “como é um pé de maçã?”... “mãe eu num sei desenhar... (buaaaaa...)”. Então esquece o desenho imaginem criar um animal de estimação, sem paranóia escolha já o cachorro.
O primeiro cachorro, ai que alegria. Pequeninos, inofensivos, brincalhões, peludinhos, uma graça que sem dúvida se chamara “Juca” e vai dormir comigo, até que vem a primeira “cagada”. É uma merda na cozinha, outra na sala, no tapete, esfrega o focinho aqui e ali e ele nada de aprender. “Santa paciência meu São Francisco dá força para criar esse cachorro”.
E a família? Digo não a família do cachorro “Juca”, me refiro a criar uma família de pessoas. Então, não é nada fácil. Os pais são professores eternos, mal pagos e sem aposentadoria. E ai se anima a ser Pai e Mãe ou vai criar cachorros? Agora tem o lado muito melhor de toda essa dedicação. A casa está sempre em movimento, o almoço é uma reunião de terapia em grupo, o filho segue o caminho dos pais, a vida se multiplica, o tempo é gasto na arte do prazer de se observar o passado e as palavras são usadas apenas como dica e, depois de um certo tempo, criar cachorro é uma ótima idéia.
Vejo que pais não se cansam estão sempre ativos, mesmo sentados. “O que se passa na mente desses mestres casados?”
Quando meu pai trabalhava na Base, uma vez ou outra era permitido entrar em sua sala, não havia nada de mais. Todos os móveis eram cinza, tinha uma máquina de escrever, uma cadeira giratória de madeira com os pés de rodinhas, sem obras de arte, apenas fotos da base, nada de fotos de família, tudo muito sério e era o máximo. E eu me pergunto o que de tão legal havia naquela sala que me fascinava tanto?
Hoje sei que a melhor lembrança daquela sala era ver o meu Pai. O filho sempre sonha em ser igual ao pai ou a mãe, eu sou um pouco dos dois, mas longe, muito longe de ser o meu Pai e a minha Mãe.
Mas uma coisa eu aprendi e bem, higiene bucal vai além dos fios dentais.
E você, o que aprendeu com seus pais?
Estava ausente, mas com saudades de meus leitores.
Obrigada!!